quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Menino do Grajaú, a culpa não é da bananeira

Por Milton Jung

Casas construídas em condições precárias nos barrancos desabam e matam famílias inteiras. Nesta quinta-feira, apenas um garoto de seis anos sobreviveu e logo saberá que a mãe, o pai e a irmã de nove anos foram soterrados no barraco em que viviam no Jardim Grajaú, extremo sul de São Paulo. Bem perto dali, quatro casas haviam sido interditadas pelo risco que havia de uma tragédia. A do garoto não tinha recebido aviso prévio mas veio a baixo assim mesmo.

Outra lição que o menino terá, em breve, é jamais plantar bananeira no terreno em que mora, pois este espécie de árvore só nasce em local com muita umidade e se estiver no morro é por que o lençol freático está ralo, aumentando o risco de escorregamento.

Ouça a explicação do coronel Luiz Massao Kita, da Defesa Civil do Estado de São Paulo, sobre o efeito das bananeiras

Antes, porém, que alguém ensine ao garoto recém-orfão de que a causa da tragédia foram as bananas que ele tanto gostava de pegar no pé, que saiba os motivos que levaram a família dele para o barranco. Que entenda a responsabilidade daqueles que tem o poder para definir políticas de habitação popular; daqueles que permitiram que a família dele fosse explorada e ocupasse áreas de risco; daqueles que deixaram de investir o dinheiro dos impostos em ações de combate as enchentes para fazer propaganda de si mesmo.

O menino sobrevivente do Grajau ainda tem muito a aprender, em São Paulo.

Mílton Jung é jornalista, âncora do programa CBN São Paulo e autor dos livros "Conte Sua História de São Paulo" e "Jornalismo de Rádio".

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