segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Cidade é repartida em pedaços para que parlamentares façam campanha

Em época de eleição, áreas são loteadas para que ‘dono do pedaço’ possa fazer propaganda política sem concorrência

Diego Zanchetta e Fernando Gallo, de O Estado de S.Paulo
Dominar um território específico da cidade é essencial para quem busca uma vaga na Câmara Municipal de São Paulo. Com o apoio de associações de moradores, igrejas e escolas de samba, entre outros grupos organizados, parlamentares paulistanos construíram "feudos" onde nenhum adversário ousa fazer campanha. Não à toa, a disputa no município acaba ganhando ares de uma eleição distrital. É assim em bairros do extremo sul, onde dois parlamentares chegam a ter um pacto de respeito aos "limites" territoriais, apesar da notória inimizade.
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Antonio Goulart (PSD) sabe que não pode fazer campanha na Avenida M’Boi Mirim, dominada por Milton Leite (DEM), que também não pede votos na área norte da Capela do Socorro. Mais abaixo, quem manda é Arselino Tatto (PT) e seus irmãos deputados. A área é apelidada, inclusive, de Tattolândia.
Milton Leite ainda mantém acordo de divisão territorial com o vereador Antonio Carlos Rodrigues (PR), ex-presidente da Câmara cuja área de influência é o Campo Limpo. "O Milton fica no Jardim São Luís, e eu pego essa área do Campo Limpo", diz Carlinhos, como é conhecido. Os dois são aliados há três legislaturas.
Carlinhos, por sua vez, procura não adentrar no território do Capão Redondo dominado pelo vereador Antonio Donato, presidente do PT municipal e com forte influência sobre líderes católicos da região. "Em São Paulo, quem esquece a comunidade e fica só no plenário dança nas urnas", resume.
Do outro lado da cidade, em Guaianases, na zona leste, poucos candidatos ousam fazer campanha nos bairros dominados pelo vereador Senival Moura (PT). Ligado a uma cooperativa com 1.500 perueiros, o petista conta com o apoio de líderes comunitários, diretores de creches e times de futebol de várzea. "Vou fazer uma campanha neutra. Me falaram para ter cuidado por aqui", diz Armandinho Ferreiro, candidato pelo PMDB e morador na região onde Senival mantém forte influência.
Na Vila Maria, zona norte, dificilmente alguém se arrisca a tentar pedir votos em entidades, igrejas ou nos Clubes Escolas da Prefeitura. Faz três décadas que o vereador "oficial" do bairro é Wadih Mutran (PP), dono de 16 ambulâncias que levam e buscam moradores em hospitais e prontos-socorros da região. Hoje, ele é o decano da Câmara.
Até os vereadores chamados "classe média", aqueles com apoio disperso por toda a cidade - que obtém os votos de opinião - acabam adotando o trabalho regional como prioridade do mandato.
José Police Neto (PSD), atual presidente do Legislativo municipal e com reconhecido trânsito em bairros como Vila Mariana e Moema, na zona sul, conquistou 20% de seus votos em 2008 em Perus, uma das regiões mais pobres da zona norte. No mandato, concentrou trabalho para levar iluminação e asfalto a uma das partes mais carentes do bairro, quase no limite com o município de Caieiras, na região metropolitana.
"Ninguém nunca se preocupou com a gente, muita gente votava em Caieiras e por isso nenhum vereador nos ajudava. O único que conseguiu trazer asfalto pra cá foi o Police", diz Amanda Castanho de Oliveira, 44 anos, moradora de Perus.
Nem bandeiras politicamente corretas, como o esporte ou a defesa dos animais, são garantias de consagração nas urnas se o vereador não tiver uma base sólida em algum bairro. Com trabalho voltado para evitar o abandono de cães e gatos, o vereador Roberto Tripoli (PV) mantém forte reduto em Pinheiros, zona oeste, onde mantém uma rede de contatos com comerciantes e associações de moradores. O judoca campeão olímpico Aurélio Miguel (PR) montou base regional na Vila Sônia, bairro de classe média na zona sul. O parlamentar encampou a defesa de moradores que são contrários ao projeto do monotrilho e hoje conta com uma rede de apoios na região que inclui paróquias católicas e centenas de lojistas.

Fonte: Estadão. com.br

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