Cristiane Bomfim
Os córregos de São Paulo foram limpos, em média, menos de duas vezes entre janeiro e julho deste ano, apesar dos transtornos causados pelas chuvas no início do ano. Segundo a Prefeitura, seus agentes fizeram a manutenção de 1.833 quilômetros de margens. Somada, a extensão dos córregos da cidade é de 1.200 quilômetros. A Prefeitura, que não informou com que frequência o trabalho é feito, contesta o cálculo. Em nota, diz “que os serviços de limpeza ocorrem segundo o grau de necessidade e, claro, das especificidades de cada local” (leia abaixo).
Córrego Três Pontes, no Jardim Romano, zona leste da cidade (Foto: Cristiane Bonfim/AE)
No Córrego Água Preta, um dos responsáveis pelos alagamentos na esquina das avenidas Francisco Matarazzo e Pompeia, na zona oeste, mato e entulho cobrem as margens. Mal dá para ver o espelho d’água tamanha a sujeira: há também móveis e pneu velho. “Perdi R$ 20 mil em mercadorias na última enchente. Desde que estou aqui, há cinco anos, foram 20 cheias”, diz o comerciante Alex Laerte Carlos, de 30 anos, dono de uma loja vizinha ao córrego.
A três meses do início da nova temporada de chuvas, o Programa de Melhoria da Drenagem Urbana, que inclui a limpeza dos córregos, finalizou 39% dos serviços planejados para 2010, de acordo com o site da Secretaria Municipal de Planejamento. No entanto, há serviços contratados que ainda estão em andamento. Somando os trabalhos concluídos com aqueles em execução, a Prefeitura liberou R$ 213 milhões para o programa neste ano. O valor é 60% dos R$ 356 milhões previstos no Orçamento para essas atividades. O programa inclui também a limpeza de bueiros e dos piscinões, além da manutenção e reforma de galerias pluviais, item que menos avançou. Dos 2.850 quilômetros de galerias, só 382 foram inspecionados ou limpos.
Para o vice-presidente de atividades técnicas do Instituto de Engenharia, Marcelo Rozenberg, a manutenção tem de ser contínua. “É um equipamento que precisa estar em ordem quando for requisitado. A época de estiagem (de abril a outubro) é a ideal (para manutenção).”
O engenheiro especialista em recursos hídricos, Julio Cerqueira César Neto, explica que todos os córregos precisam da mesma atenção e cuidado. “Quando um córrego está sujo no momento de chuva, todo o lixo é carregado para rios maiores, como o Tamanduateí e o Tietê. Como resultado temos grandes alagamentos, como os do fim de 2009 e começo deste ano”, explica ele, que também é membro do Conselho Superior de Meio Ambiente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
Para exemplificar, Cerqueira César diz que as inundações do Tietê no último verão foram por conta do assoreamento. “A capacidade de vazão (do Tietê) é de 1.000 m³ por segundo e transbordou, em todas as vezes, com vazão entre 700 e 800 m³. Estava sujo.”
Nas oito blitze que realizou em córregos este ano, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Câmara Municipal constatou que os serviços estão atrasados. “Se chover hoje, acontecerão os mesmos alagamentos de janeiro”, sentencia o presidente da CPI, o vereador Adilson Amadeu (PTB). “A limpeza, quando ocorre, é light, não se vê maquinário nas ruas.” A Prefeitura justifica que a limpeza é mais frequente em “pontos de maior fluxo de pessoas e maior acúmulo de detritos”.
Córrego do lageado, na zona leste (Foto: Cristiane Bonfim/AE)
Prefeitura
A Prefeitura diz, em nota, que a limpeza dos córrego da cidade ocorre de acordo com as necessidades de cada local, o que invalidaria o cálculo feito com base na média da cidade. Mas o texto não informa se o fato de um córrego ter sido limpo várias vezes significa que outro não foi limpo. A gestão Gilberto Kassab (DEM) diz ainda, no texto, que investe em programas educativos sobre o descarte de lixo e entulho. Ainda segundo a Prefeitura, há 450 quilômetros de córregos canalizados, que teriam declive suficientes para arrastar a sujeira. Mas o texto não diz se eles foram limpos.
Sobre os gastos para evitar as enchentes, a nota afirma que “a Prefeitura investiu R$ 621 milhões no primeiro semestre. (…)Isso representa aproximadamente 80% dos investimentos feitos ao longo de todo o ano anterior”.
Do Jornal da Tarde
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