quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Como está a disputa para presidente da Câmara

Por Milton Jung


A Câmara Municipal de São Paulo está em alvoroço. Nos gabinetes e corredores – às vezes até mesmo em um bate-papo no banheiro -, os vereadores não falam em outra coisa. Dia 15 de dezembro será eleito o novo presidente da Casa que substituirá Antônio Carlos Rodrigues (PR), no poder há quatro anos.
Dois candidatos estariam disputando o voto dos 55 vereadores. Um terceiro corre por fora. José Police Neto (PSDB), Milton Leite (DEM) e Aurélio Miguel (PR) são os nomes mais lembrados pelos colegas, cada um com sua peculiaridade.
Miguel é o “sonho de consumo” do atual presidente. São do mesmo partido e dividem fronteira em suas zonas eleitorais, nas regiões sul e oeste da capital. Rodrigues estaria preparando-o para assumir o posto há cerca de dois anos. O vereador, porém, oficialmente, não é candidato nem estaria pedindo voto. Seria apresentado às vésperas da eleição como a alternativa na Câmara para conciliar os ânimos acirrados.
Leite é apontado como o candidato do Centrão. Não bastasse ter saído ainda mais forte da última eleição – elegeu os dois filhos, um para Assembleia e o outro para a Câmara dos Deputados -, é o homem do Orçamento. Ele é quem comanda a discussão dentro da Casa sobre como o dinheiro da prefeitura será usado no ano seguinte. Vereador para ter uma emenda aceita negocia com ele. Portanto, tem muita influência.
O parlamentar do DEM contudo insiste em dizer, publicamente, que não é candidato. Ligou para a redação da CBN, nessa terça-feira, incomodado com a notícia de que estaria na disputa. Semana passada, já havia conversado com repórteres de outro veículo, mas o recado era diferente: dizia ter o apoio da cúpula do partido.
Antes de convencer este jornalista de que não é candidato – “minha palavra não basta?”, disse por telefone -, precisa explicar isso aos colegas. Carlos Apolinário do mesmo partido dele anunciou no dia 10 deste mês, registrado em ata, que vota em Milton Leite para presidência da Câmara. Nada consta de que Leite tenha agradecido a gentileza e afirmado estar fora da disputa.
É necessário contar, também, para o vereador José Américo (PT) que tem tentado convencer seus pares de que o partido tem de ficar ao lado de Milton Leite do DEM.
Esta eleição, por sinal, é para confundir a cabeça do cidadão. Se o PT apoia o candidato do DEM, o prefeito do DEM apoia o do PSDB. Não que isso possa ser considerado um absurdo. O tucano José Police Neto é o líder do Governo Kassab na Câmara desde sempre e o prefeito está pronto para abandonar o DEM.
Netinho – o do PSDB – tem a seu favor a relação que construiu com os demais vereadores, mesmo os da oposição. Ajudou vários deles a refazer projetos de lei tornado-os possíveis de aprovação.
Esta situação, porém, não lhe oferece vantagem folgada na eleição para a presidência. A disputa é voto a voto e a decisão deve sair na véspera do pleito, talvez apenas na manhã do dia 15 quando as candidaturas são apresentadas oficialmente.
Apesar de o regimento interno prever votação secreta, desde que José Eduardo Martins Cardozo (PT) ganhou a eleição para presidente da Câmara, há oito anos, o voto é aberto. Isto tem deixado alguns parlamentares com medo. Há quem tenha declarado, informalmente, que apoiar o candidato do lado oposto pode significar o ostracismo – na política isto se traduz por não aprovação de projetos de lei nem liberação de verba para seu reduto eleitoral.
Com tudo isso, um vereador de primeiro mandato, assustado com a veemência das negociações, decreta: “A Câmara está rachada”.
Mílton Jung é jornalista, âncora do programa CBN São Paulo, idealizador do Adote um Vereador e autor dos livros "Conte Sua História de São Paulo" e "Jornalismo de Rádio".

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