Com 164 mil habitantes e área verde de sobra, região formada por antigas fazendas vive euforia depois de virar notícia até no exterior
Diego Zanchetta - O Estado de S.Paulo
Pergunte a um vizinho do Pacaembu ou do Morumbi o que ele acha de ter um estádio ao lado de casa e a resposta será um relato-reclamação sobre trânsito, flanelinhas, brigas, barulho e outros transtornos comuns em dias de jogos. Mas em Pirituba, na zona oeste, a maioria da população fica mais do que animada ao falar da expectativa de ganhar uma arena para a Copa 2014.
Na esteira do empreendimento de custo estimado em R$ 640 milhões, moradores aguardam ansiosos a chegada do metrô e de mais serviços comerciais. "Fora que a nossa "quebrada" vai ganhar fama internacional, o mundo vai saber quem é Pirituba", vibra Gerson Mendes, de 56 anos, dono de farmácia há três décadas na Avenida Mutinga, no centrinho comercial ao lado da antiga estação de trem.
O bairrismo na região explodiu após aumentarem os rumores sobre a construção do Piritubão. O estádio para 60 mil pessoas é cogitado pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) para São Paulo abrir o Mundial. E não importa se a obra vai ter dinheiro público, quem vai construir ou se algum clube de futebol será o futuro proprietário. "Todo mundo fala em preservar o verde, mas ninguém quer morar sem uma boa padaria perto de casa. Aqui, por causa da Copa, vamos ter o metrô. Aí vou voltar da Avenida Paulista em 20 minutos. Hoje a perua que eu pego demora uma hora e meia só para subir o morro", conta a aposentada Maria de Lourdes Santos, de 65, nascida e criada no bairro.
Nos últimos cem anos, a geografia desfavorável de Pirituba limitou a chegada de bons serviços públicos, como transporte coletivo e saneamento. Localizado num morro 200 metros acima do Rio Tietê, espremido entre uma área de várzea e a Rodovia dos Bandeirantes, o bairro adquiriu características de periferia. Faltam escolas, postos de saúde e ônibus para outras regiões da capital.
Ar do interior. Em meio à carência de serviços, Pirituba mescla um cenário interiorano com o subúrbio típico de uma metrópole. Na parte mais baixa do bairro estão loteamentos de alto padrão construídos a partir dos anos 1970 pela Cia. City, como o Pinheirinho e o Recanto Anastácio. Já no alto estão os conjuntos habitacionais da Cohab e algumas favelas. O lazer para os mais jovens se resume a meia dúzia de campos de futebol de terra. Por outro lado, sobram ocupações irregulares, botecos e matagais abandonados - é a segunda região com mais área verde da capital, atrás de Parelheiros.
A dificuldade de acesso rápido ao bairro é outro motivo de reclamação. A principal via que leva à região é a sempre congestionada Avenida Raimundo Pereira de Magalhães, a antiga estrada São Paulo-Campinas. Nos fins de tarde, os coletivos levam duas horas para percorrê-la.
Não importa a faixa etária. Tanto nas crianças como entre moradores sexagenários, um sorriso antecede a resposta quando o assunto é a construção do Piritubão. Em qualquer discussão sobre a Copa do Mundo da África do Sul, vem logo a lembrança de que, em apenas quatro anos, pode ser a vez de o bairro, hoje com 164 mil habitantes, estar no centro dos holofotes internacionais, como Johannesburgo.
Mas a valorização imobiliária esperada pelos moradores pode ser ilusão, segundo alerta Luís Gambi, do Secovi (Sindicato da Habitação).
"Se a construção do estádio não for acompanhada pela chegada de uma boa infraestrutura, o bairro corre o risco de ver as ruas saturadas pelo trânsito, o que já vemos no Morumbi e no Pacaembu. A mobilidade pode ficar ainda pior", aponta. "Mesmo sem estádio, hoje Pirituba é um bairro em transformação, estão surgindo novos acessos e sobram espaços vazios para novos prédios. Se eu fosse investidor, apostaria em Pirituba, independentemente da Copa."
Estrutura. Por enquanto, os governos municipal e estadual não apresentaram um plano para incrementar, por exemplo, as redes de fornecimento de água e de energia elétrica para Pirituba até 2014. A Linha 6-Laranja do Metrô (São Joaquim-Brasilândia) não passa por Pirituba, mas está prevista para fazer a interligação com a Linha 7-Rubi da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (Luz-Jundiaí), que atende o bairro. As obras devem começar em 2011.
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