TIAGO DANTAS
O projeto preliminar de revitalização da cracolândia, região que se tornou um dos símbolos da degradação do bairro da Luz, no centro de São Paulo, pretende diminuir a circulação de carros, incentivar o comércio já existente, atrair novos moradores e aumentar as áreas verdes. A solução para o problema dos viciados em drogas e dos moradores de rua, porém, não integra as intervenções urbanísticas apresentado nesta quarta-feira, 17, pela Prefeitura.
A revitalização do perímetro formado pelas avenidas Cásper Líbero, Ipiranga, São João, Duque de Caxias e pela Rua Mauá é prometida desde 2005. Em junho, a Prefeitura contratou o consórcio Nova Luz por R$ 12,4 milhões para elaborar um projeto que será executado pela iniciativa privada nos próximos anos.
A primeira fase desse plano trata das mudanças propostas para ruas e avenidas. Dentro de dois meses, a Prefeitura deve informar as modificações planejadas para os quarteirões e, por fim, o estudo de viabilidade econômica do projeto.
A Rua Vitória será uma das principais vias da Nova Luz, de acordo com o estudo. Em um trecho de pouco mais de 800 metros, o asfalto dará lugar a um calçadão arborizado que restringirá a passagem de carros. Haverá espaço para a passagem de bicicletas e a instalação das mesas dos bares e restaurantes. O desenho foi inspirado na La Rampla, rua turística de 1,2 quilômetro em Barcelona, na Espanha.
Formando um X com o novo calçadão, a Avenida Rio Branco também passará por reforma, caso a Nova Luz saia do papel. A ideia é diminuir uma das três faixas destinadas aos carros em cada pista para aumentar as calçadas e plantar árvores de médio porte. Os edifícios deverão ter uso misto: o térreo pode abrigar um restaurante ou um café, por exemplo, e os andares superiores ficam reservados a escritórios comerciais e apartamentos residenciais.
Para garantir que a região seja ocupada durante todo o dia, o consórcio projetou a mudança na iluminação. Os postes de luz da Rua Santa Ifigênia, por exemplo, deverão valorizar o comércio de produtos eletrônicos e equipamentos de informática que já é forte no local – os arquitetos norte-americanos que trabalham no projeto chamam a rua de “Eletronics Street” (Rua dos Eletrônicos).
A Rua General Osório também recebeu apelido – “Motorcycle Street” (Rua das Motos). A intenção lá é impulsionar o comércio de motos e de acessórios para carros.
Privilegiar a travessia de pedestres é uma atitude correta, na opinião do consultor de Transportes Sérgio Ejzenberg. “Mas se tira um modal, como o carro, precisa investir em outro”, opina. Para ele, o mais indicado seria investir no Metrô. “A prioridade vai ser o pedestre. Mas estudos estão sendo feitos para deixar o projeto o mais compatível possível”, argumenta o secretário municipal de Desenvolvimento Urbano, Miguel Luiz Bucalem.
Além do exemplo espanhol, há outros projetos internacionais que inspiraram a Nova Luz. O Campo Santa Margherita, praça de Veneza, na Itália, serviu de base para a concepção do setor cultural e de entretenimento do bairro, que dará acesso ao Museu da Língua Portuguesa e à Sala São Paulo. Do Bryant Park, em Nova Iorque, Estados Unidos, saíram ideias para um parque no quarteirão entre a Rua Conselheiro Nébias e a Alameda Barão de Limeira.
Outra área verde ficará na esquina das ruas dos Andradas e dos Gusmões, próximo à área que será destinada aos apartamentos populares, uma nova escola e uma biblioteca. “O problema de se utilizar projetos estrangeiros é que, no exterior, há algumas diferenças: há a cultura do planejamento em obras públicas e de ampla consulta pública”, avalia a arquiteta Lucila Lacreta, do Movimento Defenda São Paulo.
“São referências ao que está sendo apresentado. Não necessariamente será feito daquela forma, mas elas projetam no futuro como vai ser”, opina o presidente da Cia.City, José Pereira Bicudo.
A empresa, responsável por projetar os bairros City Lapa e City Pacaembu, forma o consórcio Nova Luz com a norte-americana Aecon, que assina o projeto de revitalização de Londres para as Olimpíadas de 2012, a Concremat, que se ocupou do relatório de impacto ambiental da Luz, e a Fundação Getúlio Vargas (FGV), que fez o estudo de viabilidade econômica.
Viciados: sem solução
Os viciados em drogas e os moradores de rua que perambulam durante todo o dia pelas ruas da Luz, no centro, continuarão dependendo das políticas públicas. A Nova Luz não prevê a construção de nenhum equipamento de saúde nem fala sobre intervenções nessa área.
“É uma questão muito importante para a gestão. Mas ela não está só na região que a gente quer revitalizar. Está no centro como um todo e em outras áreas da cidade. E o tratamento não pode esperar o projeto da Nova Luz”, afirma o secretário de Desenvolvimento Urbano, Miguel Bucalem.
“A abordagem é de atendimento social e de saúde. E isso tem sido feito”, relata o secretário. Arquiteto urbanista do Instituto Polis, Kazuo Nakano entende que o projeto urbanístico deveria aliar a falta de imóveis para famílias de baixa renda, a economia popular e as questões sociais.
“É necessário priorizar essas demandas sociais para que os investimentos e as intervenções públicas não sejam excludentes e não se limitem ao redesenho de espaços públicos e implantação de novos edifícios com arquitetura de grife”, opina.
Já Marco Antônio Ramos de Almeida, superintendente-geral da ONG Viva o Centro, acha que a reurbanização pode contribuir para diminuir o problema. “À medida que requalifica a área, essas pessoas vão se tornar mais propensas ao tratamento. E os traficantes vão se dispersar.”
Confira os principais pontos do projeto:
No Jornal da Tarde
O conceito de cidadania sempre esteve fortemente atrelado à noção de direitos, especialmente os direitos políticos, que permitem ao indivíduo intervir na direção dos negócios públicos do Estado, participando de modo direto ou indireto na formação do governo e na sua administração, seja ao votar (direto), seja ao concorrer a cargo público (indireto).
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Como este país adora copiar o que está lá fora! Não há autenticidade alguma por aqui. Se precisar demolir parte de nossa história acho que será feito desde que as mudanças ocorram em moldes estrangeiros. Depois vem o caos como o da Educação, sempre baseada em moldes estrangeiros. Quando vamos parar de clonar? Colocar os pés no chão e começar por resolver desde os pequenos aos grandes problemas?
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