Bruno Ribeiro, do Jornal da Tarde
Quase metade das subprefeituras de São Paulo não limpou margens e calhas dos córregos da cidade após as chuvas do mês passado, o janeiro mais chuvoso dos últimos 60 anos. São 31 subprefeituras e 13 delas (42%) passaram o primeiro mês do ano sem investimentos neste serviço. Além disso, os valores empenhados para a limpeza dos córregos neste ano, quando a administração assume o compromisso de pagamento, correspondem a cerca um quinto do gasto no mesmo período em 2009. Sem a limpeza, os resíduos vão para os rios Tietê e Pinheiros, contribuindo para o assoreamento deles.
Das 18 subprefeituras que receberam verbas da Secretaria de Coordenação das Subprefeituras para tirar lixo dos córregos, nove obtiveram apenas parte do dinheiro. Oito para executar serviços de limpeza manual, com pás em enxadas, e uma (Pinheiros, na zona oeste) para retirar o lixo com ajuda de máquinas, como tratores. Apenas em nove distritos da capital o trabalho foi feito com as duas formas de limpeza (veja quadro).
Os dados são do relatório de execuções orçamentárias de janeiro, disponibilizado pela Prefeitura na última sexta-feira. As tabelas com as contas da gestão Gilberto Kassab (DEM) do mês passado mostram que, somados os valores recebidos por todas as subprefeituras, a cidade gastou R$ 3 milhões para retirar dos córregos todo o lixo trazido pelas enchentes. Se forem acrescentados na conta os recursos empenhados para a manutenção de córregos e galerias (pequenas obras e poda de mato, por exemplo), os recursos chegam a R$ 8,2 milhões.
Mesmo assim, as subprefeituras gastaram muito menos do que os R$ 38 milhões empenhados no mesmo período do ano passado para fazer a conservação dos córregos. Entretanto, as dotações do orçamento no ano passado não separavam a limpeza dos outros serviços de conservação. Nenhum dos trabalhos de limpeza foi "executado" (termo técnico para dizer que o serviço está terminado e que a empreiteira que o realizou pode receber o pagamento) até o final do mês passado.
Os córregos foram responsáveis por parte dos transtornos que as enchentes trouxeram à cidade e também por algumas das 77 mortes ocorridas no Estado, desde 1º de dezembro do ano passado, por conta das chuvas. Uma dessas mortes foi a de Beatriz Pires da Silva, de 69 anos, ocorrida há um mês em um dos braços do Córrego Pirajuçara, no Butantã. Ela foi arrastada pelas águas do córrego transbordado. A Subprefeitura do Butantã é uma das que não fez investimentos de limpeza dos córregos em janeiro - mesmo após este episódio.
TIETÊ E PINHEIROS
O engenheiro Júlio Cerqueira César Neto, do Instituto de Engenharia, afirma que o problema dos córregos é que eles têm vazão mais rápida do que os rios Tietê e Pinheiros. Por isso, os resíduos vão para os grandes rios e ajudam a sedimentá-los. "Eles jogam tudo (resíduos sólidos) no Tietê", diz.
Segundo ele, isso transforma o problema local em um transtorno para toda a cidade. César Neto diz que a limpeza nos córregos deve se concentrar na sujeira visível, como restos de móveis, porque esses materiais têm capacidade de represar a água na região do córrego e prejudicar a população às suas margens.
Fonte: estadão.com.br
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