domingo, 3 de julho de 2011

Legislando com o coração e o dinheiro do cidadão

Vereadores comemoram a aprovação do PL 288/2011 (Foto: RenattoDSouza)
Analisando as cenas ocorridas no plenário da Câmara Municipal  na última sexta-feira (01/07), após a proclamação do resultado da votação que aprovou o PL 288/2011 que concede incentivos fiscais para a construção do tal "Fielzão" ou "Itaquerão" como queiram. Cheguei a conclusão de que o cidadão tem o representante que merece, salvo alguma exceções, nossos ilustres representantes rasgaram todas as etiquetas parlamentares - se é que isso existe - ao aprovarem e comemorarem seus atos abrindo um faixa ao final da votação ou permanecendo uniformizados durante a sessão plenária.

 
Vereador Antonio Goulart (PMDB)
(Foto Roney Domingos - G1/SP)
O vereador Antonio Goulart (PMDB) que esteve ausente durante a maior parte do primeiro semestre desta legislatura, envolvido em denúncia de utilização ilegal de verbas indenizatórias (leia aqui!), passou a maior parte do tempo em licença ou atestado médico. Após o arquivamento do processo por seus pares em plenário (leia aqui!), se julga inocentado, voltou a circular pelo plenário e até exerceu sua atribuição como vice-presidente da casa presidindo uma ou outra sessão plenária.

Conselheiro do Corinthians foi um dos mais ferrenhos defensores do projeto, afinal foi eleito pela fiel torcida corintiana, desfilou durante a tarde toda com uma gravata que leva o logotipo do clube e parecia muito orgulhoso como pode ser visto na foto ao lado.


Ver. Juscelino Gadelha com boné do Corinthans
(Foto: Roney Domingos - G1/SP)

O vereador Juscelino Gadelha (Sem Partido), apareceu por volta das 15,30 em plenário usando um boné de seu time de coração e disparou a celebre frase "Sou Gaviões. Se não aprovar hoje, sai morte no plenário. Está tudo dominado". Antecipava seu voto dizendo que na casa haviam pelo menos 28 corintianos.

O regimento interno não estipula nenhuma proibição quanto ao uso de bonés. Afirma apenas que o vereador precisa estar trajado de paletó e gravata durante as sessões.



Vereadores Jamil Murad e Netinho de Paula (PCdoB)
Foto: Site oficial do vereador
A bancada do PCdoB, composta pelos vereadores Jamil Murad e Netinho de Paula, também trabalharam muito em pról da aprovação deste projeto - pelo desenvolvimento da zona leste - e tem seus motivos.

O Ministro dos Esportes pertence ao PCdoB e está envolvido até o pescoço em suspeitas de fraudes no programa Segundo Tempo, como publicou o Estadão em fevereiro deste ano e reproduzimos neste blog (veja aqui!). Talvez o apoio esteja condicionado a manutenção do ministro Orlando Silva na equipe da Presidente Dilma.

O Instituto Casa da Gente, ONG fundada por  Netinho de Paula, é cobrado a ressarcir mais de R$ 790 mil aos cofres públicos por inadimplência em convênios firmados com o governo, a partir de 2003. O dinheiro foi liberado após parcerias feitas por Netinho com o Ministério do Esporte, dirigido pelo PCdoB, e o Ministério da Cultura que tinha à época Matilde Ribeiro como Ministra, segunda suplente na chapa de Netinho por ocasião de sua tentativa frustrada de eleição ao Senado Federal (veja aqui!). Até hoje não existe nada que indique a solução destes casos.

Vereadora Juliana Cardoso (PT)

O apoio por parte dos vereadores do PT, chamou me a atenção em especial a vereadora Juliana Cardoso.

Ferrenha opositora ao prefeito Gilberto Kassab, sempre subindo a tribuna e criticando a falta de médicos em UBS/Hospitais e a falta de vagas em creches na capital (com os 420 milhões daria para construir 787 UBS com 700 equipes de saúde da familha durante um ano ou 400 creches com capacidade de atender 50.400 crianças).


O vereador Roberto Trípoli do PV (Líder do Prefeito), apresentou nova redação incoporando ao texto uma frase que deixa mais claro que o dinheiro só será liberado caso o estádio seja realmente sede da abertura da Copa do Mundo. A medida atendeu a reivindicações de vereadores próximos ao governo, entre eles, Gilberto Natalini (sem partido) e Marco Aurélio Cunha (DEM), que propunham a especificação dessa garantia. Apesar da mudança, Cunha votou contra o projeto.

Uma pesquisa nacional, publicada pelo Estadão, mostra que 54,6% dos brasileiros preferem a abertura da copa do mundo no Maracanã contra 14,6% que apoiam a abertura em São Paulo. Estranhamente todos os defensores do PL 288/2011, como os vereadores Agnaldo Timóteo, Wadih Mutran, Carlos Apolinário, Jamil Murad, Netinho de Paula, entre outros alegavam em seus discursos que a população paulistana clamava pela abertura da copa e o consequente desenvolvimento da zona leste. Estaria o desenvolvimento da zona leste condicionada a simples construção de um estádio?

Para encerrar, destaco aqui apenas os vereadores que votaram contra a aprovação do PL:

Vereadores Adilson Amadeu (PTB), Arselino Tatto (PT), Átilla Russomanno (PP), Aurélio Miguel (PR), Aurélio Nomura (PV), Carlos Neder (PT), Chico Macena (PT), Claudio Fonseca (PPS), José Ferreira (PT), Marco Aurélio Cunha (DEM), Sandra Tadeu (DEM) e Tião Farias (PSDB), Abou Anni (PV), Antônio Carlos Rodrigues (PR) e Antonio Donato (PT).

Agora nos resta esperar pelo tal legado que a copa do mundo deixará para São Paulo e quem pagará a conta, com certeza não serão os ilustres vereadores que votaram a favor da aprovação do PL.

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